Organização Cultural de Defesa da Cidadania - Entidade Apartidária

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Voto consciente



Nestas eleições, os brasileiros devem eleger dois senadores.
Sequência de votos:

- Deputado Estadual
- Deputado Federal
- Senador (primeira vaga)
- Senador (segunda vaga)
- Governador do Estado
- Presidente da República

Se você votar duas vezes no mesmo senador, o segundo voto será nulo. O primeiro será válido.
Os dois votos só serão válidos se forem dados a candidatos diferentes, não importando de que partido.

E serão eleitos os 2 candidatos mais votados para o Senado.

Por isso, atenção!
Explique este fato aos amigos - para que não façamos escolhas erradas.

Já que a Justiça Eleitoral, que tanto gasta em propaganda sobre o voto consciente, não explica a respeito do assunto, vamos fazer a nossa parte como cidadão a respeito da importância destes 2 votos para senador.

Muita gente não sabe disso.

sábado, 28 de agosto de 2010

Reunião Sobre Transporte de Ônibus

A OCDC realizou Reunião no CURSÃO - Vila Sônia,

dia 28/08/2010, para discutir o transporte em ônibus no bairro.

Como matéria de consenso decidiu-se lutar por mais carros

(maior frequência) nas linhas Vila Sônia e Jardim Colombo,

cobrar mais urbanidade por parte dos motoristas e cobradores

e também propor à SPTrans a criação de uma linha de microônibus

na Vila Morse e no Jardim Mont Kemel (do Shopping Butantã

até a Avenida Guilherme Dumont Villares, passando pelo Cemitério

Gethsêmani).

Sala do CURSÃO antes do início da reunião

*

Teo e Werbster discutem matéria sobre o Dr. Saad Mazloum

*

Participantes aguardam o início da reunião

*

Teo (falando), Jorge Trigo (da SPTrans),

Prof. Cacildo (Pres. da OCDC) e Roldão (Vice)

Roldão anota a inscrição dos participantes

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Reunião das Entidades Sociais no Educandário

Educandário Dom Duarte - 21/08/2010

Ex-vereador Odilon Guedes fala sobre Orçamento

*

Preparação para os debates

*

Temas são discutidos nas mesas

*

Teo conversa com Maurício e Nadir

*

Teo fala de Gestão Pública - Mário observa

*

Dra. Dirce expõe propostas sobre Saúde.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O cachorro engarrafado


O cachorro engarrafaco
Em nenhum caso é amigo,
Deixa o dono embriagado,
Sempre correndo perigo.

O cachorro engarrafado,
Poetinha, não é santo:
Mata quem lhe afaga o halo
E à família traz o pranto.

Poetinha, o teu cachorro
Te deixava no abandono:
Esse cão não traz socorro,
Pouco a pouco mata o dono.

Em vez de andar amarrado,
Amarra o dono em corrente,
Come o fígado em vinagre,
Cozinha o rim na água quente.

Corta emprego, afasta filho,
Tira esposa e até sogro:
É um cachorro maltrapilho
Que cativa pelo logro.

Poetinha, andaste em erro
Escolhendo essa amizade,
Que leva o espectro do enterro
Às famílias a que invade.

Não preocupa ao Vaticano
O veneno destilado
E então voga soberano
O cachorro engarrafado.

Cacildo Marques
22/08/10

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Magnólia Fiuza


Magnólia Fiúza

Magnólia, magnífica mulher que é flor do Chico.
Autêntica representante da nossa rajalegre
Ganhou esse apelido do amigo que conhece
Não conheço, mas do que sei eu certifico.

Obrigado por sua amizade que enobrece
Lendo seus poemas com estrutura e verso rico
Impossível não amar o seu fazer estilístico
Acredito que uma grande editora o reconhece

Felicidade minha amiga ofereço-te esse dístico
Intenção pode ter o amigo aqui de Várzea Alegre
Uma vez que quem escreve demonstra sua verve

Zarpei-me, pois aqui por nenhum minuto eu fico.
Ainda que você não goste, mas conserve.
Apenas as palavras de um poeta que se atreve!

&&&&&&&&&&&&&&&&&&

Magnólia esse é um singelo acróstico do seu amigo virtual

Francisco Gonçalves de Oliveira.

domingo, 15 de agosto de 2010

Eleições 2010

A IMPORTÂNCIA DA BOA ESCOLHA DE LEGISLADORES. – maio 2010
Dr. Antonio Visconti


Fenômeno conhecido e já verificado por pesquisas é a pouca atenção que o eleitor, de regra, dá a seus votos para a formação do Poder Legislativo. Mais de 70% já esqueceu quem sufragou, alguns anos após, o que certamente não se dá em relação aos candidatos aos cargos do Executivo.

Sucede que as eleições que realmente empolgam o eleitorado são aquelas para o Executivo, despertando paixões e rivalidades duradouras, o que também se explica pela falta de partidos realmente formados em função de determinadas formas de ver a realidade e buscar sua transformação.

Daí resulta a formação de corpos legislativos descuidadamente escolhidos. Não havendo nenhuma filtragem dos candidatos tendo em vista seu passado, não percebendo, grande parcela do eleitorado, a relevância de seu voto, poder político e econômico, assim como o corporativismo e o clientelismo, ganham enorme peso e a composição de câmaras e assembléias, sempre maculada pela presença dos que buscam a imunidade parlamentar e o foro privilegiado para fugir das consequências de suas atividades ilícitas, acaba se constituindo em obstáculo de difícil transposição para o bom funcionamento do poder legislativo. É o momento privilegiado dos cabos eleitorais, grande percentual dos quais se move por muitas razões, frequentemente bem distantes do interesse público e da preocupação com o bem comum.

E a busca da tão falada governabilidade, necessitada da formação de blocos parlamentares majoritários de apoio ao que detém o Poder Executivo, acaba se pautando pelo loteamento de cargos públicos, quando não pela pura e simples compra de votos dos parlamentares corruptos.

Os meios de comunicação contribuem para que essa situação se consolide à medida que não informam o eleitorado sobre o desempenho dos que exercem função legislativa, detendo-se apenas nos escândalos e nas situações que ensejem exploração sensacionalista.

Só muito recentemente surgem iniciativas tendentes a acompanhar a atividade dos órgãos do Legislativo, ainda assim incipientes. Já é, contudo, um primeiro e importante passo, sobretudo por evidenciar que muitos já começam a se preocupar com essa problemática.

Por conseguinte, a estratégia de movimentos ligados à cidadania há de enfatizar a grande importância da boa escolha dos senadores, deputados e vereadores. A proscrição daqueles comprovadamente inidôneos – os de ficha suja – já constituirá uma primeira contribuição valiosa para expurgar ímprobos e criminosos dos cargos eletivos, não obstante a peneira seja ainda muito grossa.

Anuncia-se, porém, que doravante haverá informação oficial sobre o passado dos candidatos, que deverão declarar seu envolvimento em complicações com a Justiça.

Primeira condição, necessária posto que não suficiente, é negar o voto aos que não gozem de presunção de idoneidade moral, que não possam ostentar um passado limpo. E buscar, em meio a todas as dificuldades de informação sobre as aptidões dos candidatos, destinar o sufrágio aos que ofereçam mínima garantia de que se pautarão pelas exigências do bem comum.

As iniciativas de combate à corrupção eleitoral insistem muito – e com razão – em que o voto não há de obedecer a baixos instintos e inspirações, jamais deve ser vendido. Deve-se explicar, porém, que a escolha não se há de balizar por amizade, simpatia ou por qualquer sentimento diverso da preocupação do eleitor com o bem comum.

Há de existir, quando menos, a reta intencionalidade de uma escolha justa, voltada a colocar nos cargos eletivos aqueles realmente credenciados a bem exercê-los, por seu passado honrado e pela aptidão que já evidenciaram em suas atividades profissionais e sobretudo por sua posição frente aos problemas do País, do Estado e do município.

Em suma, é preciso bater forte e persistentemente na tecla de que o eleitor precisa se preocupar em escolher os melhores, não só para os cargos do Executivo, mas também para os do Legislativo. Deve-se frisar muito que a democracia se distingue precisamente pela existência de um verdadeiro Poder Legislativo. Qualquer sistema autoritário ou ditatorial contará sempre com o Poder Executivo – sobrepondo-se aos demais, mas também com o Judiciário, posto que submetido àquele e por isso emasculado. Não é compatível, porém, com um Poder Legislativo independente;

Dessa forma, se quisermos consolidar o regime democrático, é vital compor órgãos do Poder Legislativo à altura de sua missão e responsabilidade. Sem isso, teremos pouco mais que um arremedo de democracia, inabilitada a encontrar o caminho da justiça e do progresso.

Plenária sobre transporte público

Pessoal

Seguem as minutas para o panfleto/cartaz e para o abaixo-assinado. Falta colocarmos nele o itinerário proposto (ruas e praças).
Abraços.

Cacildo
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CADÊ NOSSO ÔNIBUS? - Reunião para discutir o transporte de ônibus



Cadê os ônibus da Vila Sônia e do Jardim Colombo?

E a linha de microônibus da Vila Morse?

O ônibus chega no horário?

Há lugar para se sentar?

Como está o horário de pico?

O idoso é respeitado?

O que fazer para melhorar?



Não fique parado no ponto! Participe!



Local: Rua Dr. Silvio Dante Bertacchi, 429, Cursão.

Data: 28 de agosto de 2010, sábado, 15h.

Plenária sobre transporte público

Olás!

Ficou muito bom!

Que tal precisar melhor por onde queremos a circulação do microônibus?

Coloco abaixo sugestão.

Envio para as escolas os textos do panfleto e do abaixo-assinado ou só do panfleto?

até

Nadir



ABAIXO-ASSINADO pela linha de microônibus na Vila Morse e no Mont Kemel



Nós, da OCDC – Organização Cultural de Defesa da Cidadania e do conjunto de moradores dos bairros Vila Sônia, jardim Colombo, Jardim Mont Kemel e adjacências, abaixo-assinados, vimos solicitar e propor às autoridades municipais a criação de uma linha de microônibus servindo às ruas situadas entre a Avenida Giovanni Groncchi e Avenida Francisco Morato, entre Rua Eden e Av L. Dummont Villares,região na qual os usuários de transporte coletivo têm de andar longas distâncias em subidas e descidas íngremes,para ter acesso às linhas hoje existentes.

sábado, 14 de agosto de 2010

Como escrever um bom artigo


Como escrever um bom artigo





Escrever um bom artigo é bem mais fácil do que
a maioria das pessoas pensa. No meu caso, português foi sempre a minha pior matéria. Meu professor de português, o velho Sales, deve estar se revirando na cova.

Ele que dizia que eu jamais seria lido por alguém. Portanto, se você sente que nunca poderá escrever, não desanime, eu sentia a mesma coisa na sua idade.

Escrever bem pode ser um dom para poetas e literatos, mas a maioria de nós está apta para escrever um simples artigo, um resumo, uma redação tosca das próprias idéias, sem mexer com literatura nem com grandes emoções humanas.

O segredo de um bom artigo não é talento, mas dedicação, persistência e manter-se ligado a algumas regras simples. Cada colunista tem os seus padrões. Eu vou detalhar alguns dos meus e espero que sejam úteis para você também.

1. Eu sempre escrevo tendo uma nítida imagem da pessoa para quem eu estou escrevendo. Na maioria dos meus artigos para a Veja, por exemplo, eu normalmente imagino alguém com 16 anos de idade ou um pai de família.

Alguns escritores e jornalistas escrevem pensando nos seus chefes, outros escrevem pensando num outro colunista que querem superar, alguns escrevem sem pensar em alguém especificamente.

A maioria escreve pensando em todo mundo, querendo explicar tudo a todos ao mesmo tempo, algo na minha opinião meio impossível. Ter uma imagem do leitor ajuda a lembrar que não dá para escrever para todos no mesmo artigo. Você vai ter que escolher o seu público alvo de cada vez, e escrever quantos artigos forem necessários para convencer todos os grupos.

O mundo está emburrecendo porque a TV em massa e os grandes jornais não conseguem mais explicar quase nada, justamente porque escrevem para todo mundo ao mesmo tempo. E aí, nenhum das centenas de grupos que compõem a sociedade brasileira entende direito o que está acontecendo no país, ou o que está sendo proposto pelo articulista. Os poucos que entendem não saem plenamente ou suficientemente convencidos para mudar alguma coisa.

2. Há muitos escritores que escrevem para afagar os seus próprios egos e mostrar para o público quão inteligentes são. Se você for jovem, você é presa fácil para este estilo, porque todo jovem quer se incluir na sociedade.

Mas não o faça pela erudição, que é sempre conhecimento de segunda mão. Escreva as suas experiências únicas, as suas pesquisas bem sucedidas, ou os erros que já cometeu.

Querer se mostrar é sempre uma tentação, nem eu consigo resistir de vez em quando de citar um Rousseau ou Karl Marx. Mas, tendo uma nítida imagem para quem você está escrevendo, ajuda a manter o bom senso e a humildade. Querer se exibir nem fica bem.

Resumindo, não caia nessa tentação, leitores odeiam ser chamados de burros. Leitores querem sair da leitura mais inteligentes do que antes, querem entender o que você quis dizer. Seu objetivo será deixar o seu leitor, no final da leitura, tão informado quanto você, pelo menos na questão apresentada.

Portanto, o objetivo de um artigo é convencer alguém de uma nova idéia, não convencer alguém da sua inteligência. Isto, o leitor irá decidir por si, dependendo de quão convincente você for.

3. Reescrevo cada artigo, em média, 40 vezes. Releio 40 vezes, seria a frase mais correta porque na maioria das vezes só mudo uma ou outra palavra, troco a ordem de um parágrafo ou elimino uma frase, processo que leva praticamente um mês.

Ninguém tem coragem de cortar tudo o que tem de ser cortado numa única passada. Parece tudo tão perfeito, tudo tão essencial. Por isto, os cortes são feitos aos poucos.

Depois tem a leitura para cuidar das vírgulas, do estilo, da concordância, das palavras repetidas e assim por diante. Para nós, pobres mortais, não dá para fazer tudo de uma vez só, como os literatos.

Melhor partir para a especialização, fazendo uma tarefa BEM FEITA por vez.

Pensando bem, meus artigos são mais esculpidos do que escritos. Quarenta vezes talvez seja desnecessário para quem for escrever numa revista menos abrangente. Vinte das minhas releituras são devido a Veja, com seu público heterogêneo onde não posso ofender ninguém.

Por exemplo, escrevi um artigo "Em terra de cego quem tem um olho é rei". É uma análise sociológica do Brasil e tive de me preocupar com quem poderia se sentir ofendido com cada frase.

O Presidente Lula, apesar do artigo não ter nada a ver com ele, poderia achar que é uma crítica pessoal? Ou um leitor achar que é uma indireta contra este governo? Devo então mudar o título ou quem lê o artigo inteiro percebe que o recado é totalmente outro?

Este é o tipo de problema que eu tenho, e espero que um dia você tenha também.

O meu primeiro rascunho é escrito quando tenho uma inspiração, que ocorre a qualquer momento lendo uma idéia num livro, uma frase boba no jornal ou uma declaração infeliz de um ministro. Às vezes, eu tenho um bom título e nada mais para começar. Inspiração significa que você tem um bom início, o meio e dois bons argumentos. O fechamento vem depois.

Uma vez escrito o rascunho, ele fica de molho por algum tempo, uma semana, até um mês. O artigo tem de ficar de molho por algum tempo. Isso é muito importante.

Escrever de véspera é escrever lixo na certa. Por isto, nossa imprensa vem piorando cada vez mais, e com a internet nem de véspera se escreve mais. Internet de conteúdo é uma ficção. A não ser que tenha sido escrito pelo próprio protagonista da notícia, não um intermediário.

A segunda leitura só vem uma semana ou um mês depois e é sempre uma surpresa. Tem frases que nem você mais entende, tem parágrafos ridículos, mas que pelo jeito foi você mesmo que escreveu. Tem frases ditas com ódio, que soam exageradas e infantis, coisa de adolescente frustrado com o mundo. A única solução é sair apagando.

O artigo vai melhorando aos poucos com cada releitura, com o acréscimo de novas idéias, ou melhores maneiras de descrever uma idéia já escrita.

Estas soluções e melhorias vão aparecendo no carro, no cinema ou na casa de um amigo. Por isto, os artigos andam comigo no meu Palm Top, para estarem sempre à disposição.

Normalmente, nas primeiras releituras tiro excessos de emoção. Para que taxar alguém de neoliberal, só para denegri-lo? Por que dar uma alfinetada extra? É abuso do seu poder, embora muitos colunistas fazem destas alfinetadas a sua razão de escrever.

Vão existir neoliberais moderados entre os seus leitores e por que torná-los inimigos à toa? Vá com calma com suas afirmações preconceituosas, seu espaço não é uma tribuna de difamação.

4. Isto leva à regra mais importante de todas: você normalmente quer convencer alguém que tem uma convicção contrária à sua. Se você quer mudar o mundo você terá que começar convencendo os conservadores a mudar.

Dezenas de jornalistas e colunistas desperdiçam as suas vidas e a de milhares de árvores, ao serem tão sectários e ideológicos que acabam sendo lidos somente pelos já convertidos. Não vão acabar nem mudando o bairro, somente semeando ódio e cizânia.

Quando detecto a ideologia de um jornalista eu deixo de ler a sua coluna de imediato. Afinal, quero alguém imparcial noticiando os fatos, não o militante de um partido. Se for para ler ideologia, prefiro ir direto na fonte, seja Karl Marx ou Milton Friedman. Pelo menos, eles sabiam o que estavam escrevendo.

É muito mais fácil escrever para a sua galera cativa, sabendo que você vai receber aplausos a cada "Fora Governo" e "Fora FMI". Mas resista à tentação, o mercado já está lotado deste tipo de escritor e jornalista. Economizaríamos milhares de árvores e tempo se graças a um artigo seu, o Governo ou o FMI mudassem de idéia.
5. Cada idéia tem de ser repetida duas ou mais vezes. Na primeira vez você explica de um jeito, na segunda você explica de outro. Muitas vezes, eu tento encaixar ainda uma terceira versão.

Nem todo mundo entende na primeira investida, a maioria fica confusa. A segunda explicação é uma nova tentativa e serve de reforço e validação para quem já entendeu da primeira vez.

Informação é redundância. Você tem que dar mais informação do que o estritamente necessário. Eu odeio aqueles mapas de sítio de amigo que se você errar uma indicação você estará perdido para sempre. Imagine uma instrução tipo: "se você passar o posto de gasolina, volte, porque você ultrapassou o nosso sítio".

Ou seja, repeti acima uma idéia mais ou menos quatro vezes, e mesmo assim muita gente ainda não vai saber o que quer dizer "redundância" e muitos nunca vão seguir este conselho.

Neste mesmo exemplo acima também misturei teoria e dois exemplos práticos. Teoria é que informação para ser transmitida precisa de alguma redundância, o posto de gasolina foi um exemplo.

Não sei porque tanto intelectual teórico não consegue dar a nós, pobres mortais, um único exemplo do que ele está expondo. Eu me recuso a ler intelectual que só fica na teoria, suspeito sempre que ele vive numa redoma de vidro.

6. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, o melhor é deixá-lo chegar à conclusão sozinho, em vez de você impor a sua. Se ele chegar à mesma conclusão, você terá um aliado. Se você apresentar a sua conclusão, terá um desconfiado.

Então, o segredo é colocar os dados, formular a pergunta que o leitor deve responder, dar alguns argumentos importantes, e parar por aí. Se o leitor for esperto, ele fará o passo seguinte, chegará à terrível conclusão por si só, e se sentirá um gênio.

Se você fizer todo o trabalho sozinho, o gênio será você, mas você não mudará o mundo, e perderá os aliados que quer ter.

Num artigo sobre erros graves de um famoso Ministro, fiquei na dúvida se deveria sugerir que ele fosse preso e nos pagar pelo prejuízo de 20 bilhões que causou, uma acusação que poderia até gerar um processo na justiça por difamação.

Por isto, deixei a última frase de fora. Mostrei o artigo a um amigo economista antes de publicá-lo, e qual não foi a minha surpresa quando ele disse indignado: "um ministro desses deveria ser preso". A última frase nem foi necessária.

Portanto, não menospreze o seu leitor. Você não estará escrevendo para perfeitos idiotas e seus leitores vão achar seus artigos estimulantes. Vão achar que você os fez pensar.

7. O sétimo truque não é meu, aprendi num curso de redação. O professor exigia que escrevêssemos um texto de quatro páginas. Feita a tarefa, pedia que tudo fosse reescrito em duas páginas sem perder conteúdo.
Parecia impossível, mas normalmente conseguíamos. Têm frases mais curtas, têm formas mais econômicas, tem muita lingüiça para retirar.

Em dois meses aprendemos a ser mais concisos, diretos, e achar soluções mais curtas. Depois, éramos obrigados a reescrever tudo aquilo novamente em uma única página, agora sim perdendo parte do conteúdo.
Protesto geral, toda frase era preciosa, não dava para tirar absolutamente nada. Mas isto nos obrigava a determinar o que de fato era essencial ao argumento, e o que não era.

Graças a esse treino, a maioria das pessoas me acha extremamente inteligente, o que lamentavelmente não sou, fui um aluno médio a vida inteira. O que o pessoal se impressiona é com a quantidade de informação relevante que consigo colocar numa única página de artigo, e isto minha gente não é inteligência, é treino.

Portanto, mãos à obra. Boa sorte e mudem o mundo com suas pesquisas e observações fundamentadas, não com seus preconceitos.

Stephen Kanitz

O Poder da Validação


O Poder da Validação


Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.

Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de "validação", embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.

Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado para mim". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: "Gosto de você pelo que você é". Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma grande mulher" (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o "máximo", que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o "máximo" são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um "valeu, cara, valeu".

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Stephen Kanitz

Artigo publicado na Revista Veja, edição 1705, ano 34, nº 24, 20 de junho de 2001, pág.22

domingo, 8 de agosto de 2010

Pílulas-para-os-nervos

A medicalização do sofrimento humano

Marco Antonio Alves Brasil

Há uma concentração da nossa população em áreas
metropolitanas, particularmente nos Estados de São Paulo e

do Rio de Janeiro. Muitos deixaram o campo na esperança de
conquistar uma vida melhor na cidade grande, onde vivem
nas periferias e nos morros, sem perspectiva de trabalho,
condenadas ao desemprego ou ao subemprego, à educação
e assistência médica precárias.

O sofrimento é inerente à vida humana; contudo, quando se torna desnecessário? Em que momento vira expressão de doença ou transtorno e passa a ser merecedor de tratamento? Quando sentimentos como tristeza, remorso, vergonha e a desesperança deixam de ser legítimas manifestações humanas para se tornar transtornos devidamente catalogados em nossas classificações diagnosticas, assumindo assim a condição de "uma questão médica'?

Assiste-se atualmente a uma inflação da procura por médicos. A medicina é frequentemente utilizada para fins publicitários. O adjetivo "medicinal" traz a muitos produtos uma garantia de sucesso. As tensões, as dificuldades e a violência da vida social tornam-se facilmente "estresses" e "traumas", levando à "depressão". Há uma concentração da nossa população em áreas metropolitanas, particularmente nos estados de São Paulo e do Rio de janeiro. Muitos deixam o campo na esperança de conquistar uma vida melhor na cidade grande. Há, portanto, um enorme contingente de pessoas que vivem nas periferias c nos morros, sem perspectiva de trabalho, condenadas ao desemprego ou ao subemprego, à educação e assistência médica precárias.

Sem ter como satisfazer as necessidades básicas - principalmente a alimentação -, as pessoas de baixa renda recorrem constantemente a drogas tranquilizantes para vencer os dramas existenciais. As pílulas para os nervos ou para dormir são usadas frequentemente pelas pessoas de baixa renda, para superar o estresse provocado pelas poucas horas de sono, pela exploração do trabalho e pela alimentação não satisfatória, além da impossibilidade de ter controle sobre a vida. Essas pessoas assumem a condição de doentes e suprimem os gastos com a alimentação para comprar remédios contra cansaço, velhice, "sangue quente" ou fortificantes. Entre estes últimos, são muito consumidos os complexos vitamínicos, ministrados
muitas vezes por orientação de farmacêuticos ou por influência da propaganda. Geralmente, os pacientes recorrem a tais medicamentos sempre que sofrem uma "crise de nervos", quadro composto por queixas sintomáticas difusas, como tonturas, palpitações, "vista escura", desmaios, esquecimentos, insônias, medo de sair sozinho à rua, "perna bamba", "dormência nas pernas", cansaço, falta de apetite, "buraco no estômago", "tremores no corpo", fisgadas na cabeça, ardor e frio na cabeça, dores difusas, irritabilidade, crises de choro, vontade de bater nos filhos, vontade de gritar, vontade de morrer, agonia no peito, desinteresse sexual, moleza, entre outros.

Em pesquisa realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), feita em 25 comunidades rurais da região serrana do Espírito Santo, verificou-se que quase um terço dos entrevistados sofriam dos chamados problemas dos nervos. Para minimizar os sintomas, 88% do grupo tomava continuamente um ou mais psicotrópicos adquiridos em farmácia, muitas vezes sem receita médica. Em 53% dos relatos, o "remédio de nervo" foi citado espontaneamente. Foram citados pêlos participantes da pesquisa 26 tranquilizantes; 11% dos entrevistados indicaram como sintoma de doença o fato de não conseguirem dormir e 12% apresentavam dor no corpo, fraqueza, cansaço, falta de forças, "zonzeira", "bambeira", vozes na cabeça, preocupação, dor de cabeça. Por conta desse cenário, 29,5% dos indivíduos já haviam sido internados.

Outros trabalhos de campo junto à população carente de diferentes regiões do Brasil apontam que por trás dessas "doenças" encontram-se a pobreza, a impossibilidade de participar produtivamente da sociedade, o não reconhecimento social, o desamparo, o desemprego, a fome e a perda da
esperança de vencer na vida.

É ilusório supor que a solução para todos os sofrimentos do homem estaria dentro do modelo médico. É inconcebível querer abordar ou resolver as questões decorrentes do sofrimento humano sem colocá-las em todos os níveis, dentro de seus contextos socioculturais. Não se trata de negar a importância das diferenças que constituem a personalidade de cada um, mas de ver que toda pessoa não pode ser completamente entendida, caso não seja levado em consideração o ambiente cultural e social onde vive, seus valores sociais e culturais, bem como o lugar que a sociedade concede ao indivíduo, ao valor que ela confere à liberdade e ao direito ao lazer.

As questões relacionadas à saúde mental passam por discussões centrais relacionadas à cultura de paz, à segurança, à proteção ao ambiente e aos direitos humanos. Não há progresso na saúde sem transformações sociais. Toda resposta aos problemas de saúde da população que for concebida unicamente em termos de assistência médica acaba ultrapassando as possibilidades econômicas do país e está fadada ao fracasso. Só haverá real progresso em saúde mental se esse avanço for acompanhado de justiça social, de condições de vida digna para nossa população, de iguais oportunidades de educação e trabalho, e de direitos e deveres iguais para todos.

Marco Antonio Alves Brasil; professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é chefe do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Clementino Fraga Filho e ex-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Publicado em Dialógico – Revista do Movimento do Ministério Público Democrático – Ano VII – no. 29 (www.mpd.org.br)

sábado, 7 de agosto de 2010

Fé nas utopias.



Por Paulo Viana


Eu sei que a complexidade do ser humano não pemite que tenhamos padrão ideal de comportamento e que o sonho da felicidade, da paz, do equilíbrio e de outras quimeras absolutas não passa de necessário buscar da utopia. Sei, também, que a vida é forjada no viver concreto, no se jogar no mundo, planejando, quando dá, ou ariscando quando podemos; Que a ética pura é quase impossível; Que as relações se consolidam no confronto de almas diferentes e na dinâmica de interesses muitas vezes não revelados.
A vida é, ainda, muito misteriosa e encanta a todos, porque surpreende, eleva, descontrói, maltrata, alegra, exalta e pune. Só a morte desencanta.
E se não fosse o sonho? E se não desejássemos encontrar um termo definitivo para a inquietude, insatisfação, incoerência, desvirtuamento, que pudesse engendrar espíritos plenos de virtudes, honestos em sua totalidade? Imaginemos um ser humano cem por cento honesto...é possível? Seria "normal"? Talvez não, mas precisamos querer que ele exista para chegarmos a um percentual aceitável de honestidade. Queremos que a ética absoluta seja exigida, pois assim vamos ter comportamentos aproximados de uma civilização moralmente perfeita. Assim, fica mais plausível a possibilidade da justiça.
Temos a obrigação de querer essa perfeição, de exigir, não só dos homens públicos, mas, sobretudo, de nós mesmos, embora saibamos que somos animais vacilantes, vulneráveis, dependentes do funcionamento psico-físico-químico do noso corpo e da nossa mente. Porque, se não insistirmos na busca das utopias, se não mantivermos a esperança em um ser humano mais evoluído, menos egoísta, com uma concepção mais humanista do que é ser humano, de que adiantará viver? Viveremos pelo prazer imediato? Pelo consumismo? Pelas paixões efêmeras?
Considerando, por fim, que Deus (a maior invenção dos humanos) não conseguiu cumprir a tarefa de consolidar esse espírito idealizado, que buscamos, resta-nos acreditar que o amor vai, pelo menos, adiar a construção desse ser humano desiludido, egoísta, individualizado, sem esperança e suicida, que já sinaliza a sua chegada. Não podemos, jamais, abrir mão das utopias.

Paulo Viana

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Patriarcado da violência.



Débora Diniz

A brutalidade não é constitutiva da natureza masculina, mas um
dispositivo de uma sociedade que reduz as mulheres a objetos de prazer
e consumo dos homens
Eliza Samudio está morta. Ela foi sequestrada, torturada e
assassinada. Seu corpo foi esquartejado para servir de alimento para
uma matilha de cães famintos. A polícia ainda procura vestígios de
sangue no sítio em que ela foi morta ou pistas do que restou do seu
corpo para fechar esse enredo macabro. As investigações policiais
indicam que os algozes de Eliza agiram a pedido de seu ex-namorado, o
goleiro do Flamengo, Bruno. Ele nega ter encomendado o crime, mas a
confissão veio de um adolescente que teria participado do sequestro de
Eliza. Desde então, de herói e "patrimônio do Flamengo", nas palavras
de seu ex-advogado, Bruno tornou-se um ser abjeto. Ele não é mais
aclamado por uma multidão de torcedores gritando em uníssono o seu
nome após uma partida de futebol. O urro agora é de "assassino".
O que motiva um homem a matar sua ex-namorada? O crime passional não é
um ato de amor, mas de ódio. Em algum momento do encontro afetivo
entre duas pessoas, o desejo de posse se converte em um impulso de
aniquilamento: só a morte é capaz de silenciar o incômodo pela
existência do outro. Não há como sair à procura de razoabilidade para
esse desejo de morte entre ex-casais, pois seu sentido não está apenas
nos indivíduos e em suas histórias passionais, mas em uma matriz
cultural que tolera a desigualdade entre homens e mulheres. Tentar
explicar o crime passional por particularidades dos conflitos é
simplesmente dar sentido a algo que se recusa à razão. Não foi o
aborto não realizado por Eliza, não foi o anúncio de que o filho de
Eliza era de Bruno, nem foi o vídeo distribuído no YouTube o que
provocou a ira de Bruno. O ódio é latente como um atributo dos homens
violentos em seus encontros afetivos e sexuais.
Como em outras histórias de crimes passionais, o final trágico de
Eliza estava anunciado como uma profecia autorrealizadora. Em um vídeo
disponível na internet, Eliza descreve os comportamentos violentos de
Bruno, anuncia seus temores, repete a frase que centenas de mulheres
em relacionamentos violentos já pronunciaram: "Eu não sei do que ele é
capaz". Elas temem seus companheiros, mas não conseguem escapar desse
enredo perverso de sedução. A pergunta óbvia é: por que elas se mantêm
nos relacionamentos se temem a violência? Por que, jovem e bonita,
Eliza não foi capaz de escapar de suas investidas amorosas? Por que
centenas de mulheres anônimas vítimas de violência, antes da Lei Maria
da Penha, procuravam as delegacias para retirar a queixa contra seus
companheiros? Que compaixão feminina é essa que toleraria viver sob a
ameaça de agressão e violência? Haveria mulheres que teriam prazer
nesse jogo violento?
Não se trata de compaixão nem de masoquismo das mulheres. A resposta é
muito mais complexa do que qualquer estudo de sociologia de gênero ou
de psicologia das práticas afetivas poderia demonstrar. Bruno e outros
homens violentos são indivíduos comuns, trabalhadores, esportistas,
pais de família, bons filhos e cidadãos cumpridores de seus deveres.
Esporadicamente, eles agridem suas mulheres. Como Eliza, outras
mulheres vítimas de violência lidam com essa complexidade de seus
companheiros: homens que ora são amantes, cuidadores e provedores, ora
são violentos e aterrorizantes. O difícil para todas elas é discernir
que a violência não é parte necessária da complexidade humana, e muito
menos dos pactos afetivos e sexuais. É possível haver relacionamentos
amorosos sem passionalidade e violência. É possível viver com homens
amantes, cuidadores e provedores, porém pacíficos. A violência não é
constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de
uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de
prazer e consumo dos homens.
A violência conjugal é muito mais comum do que se imagina. Não foi por
acaso que, quando interpelado sobre um caso de violência de outro
jogador de seu clube de futebol, Bruno rebateu: "Qual de vocês que é
casado não discutiu, que não saiu na mão com a mulher, né cara? Não
tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Há
pelo menos dois equívocos nessa compreensão estreita sobre a ordem
social. O primeiro é que nem todos os homens agridem suas
companheiras. Embora a violência de gênero seja um fenômeno universal,
não é uma prática de todos os homens. O segundo, e mais importante, é
que a vida privada não é um espaço sacralizado e distante das regras
de civilidade e justiça. O Estado tem o direito e o dever de atuar
para garantir a igualdade entre homens e mulheres, seja na casa ou na
rua. A Lei Maria da Penha é a resposta mais sistemática e eficiente
que o Estado brasileiro já deu para romper com essa complexidade da
violência de gênero.
Infelizmente, Eliza Samudio está morta. Morreu torturada e certamente
consciente de quem eram seus algozes. O sofrimento de Eliza nos
provoca espanto. A surpresa pelo absurdo dessa dor tem que ser capaz
de nos mover para a mudança de padrões sociais injustos. O modelo
patriarcal é uma das explicações para o fenômeno da violência contra a
mulher, pois a reduz a objeto de posse e prazer dos homens. Bruno não
é louco, apenas corporifica essa ordem social perversa.
Outra hipótese de compreensão do fenômeno é a persistência da
impunidade à violência de gênero. A impunidade facilita o surgimento
das redes de proteção aos agressores e enfraquece nossa sensibilidade
à dor das vítimas. A aplicação do castigo aos agressores não é
suficiente para modificar os padrões culturais de opressão, mas indica
que modelo de sociedade queremos para garantir a vida das mulheres.
DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Fonte: http://www.estadao. com.br/especiais /

terça-feira, 3 de agosto de 2010

FICHA-LIMPA

A OCDC apoia a lei da Ficha Limpa. Não apoia nenhum candidato, porque é apartidária.

BLOG DA DILMA 13 PRESIDENTE: Governador do Ceará chama Veja de "tendenciosa" e ...

BLOG DA DILMA 13 PRESIDENTE: Governador do Ceará chama Veja de "tendenciosa" e ...: "Redação, Portal IMPRENSA “No último domingo (01), durante o primeiro debate eleitoral pelo governo do Ceará, Cid Gomes (PSB-CE), atual gove..."

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Odeio os indiferentes.




11 de Fevereiro de 1917
Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"
# Publicado por Paulo Kautscher em 22 julho 2010 às 13:23 em EDUCAÇÃO

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.

A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.


Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917

Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"

Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.

Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive

HTML de: Fernando A. S. Araújo


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