- Pessoal, localizei nos meus arquivos este texto composto entre 1980/82 sob o signo da liberdade (de ser, de pensar). O Brasil então era um pouco mais que 90 milhões em ação (lema da Copa 70). Hoje, menos de 50 anos depois, somos perto dos 200m com uma infraestrutura deficiente ao ponto de faltar luz e água de maneira constante. É preciso lembrar que uma das maiores aspirações reinantes era sair do ciclo ditatorial. Este parecia ser o único obstáculo que separava um povo inteiro do tão sonhado amanhã ao abrigo das necessidades básicas. Passamos a acreditar que a saída dos anos de chumbo traria necessariamente uma nova dignidade no conceito de viver. Poder caminhar com liberdade e democracia para um Brasil melhor, uma sociedade mais justa. O sonho esbarrou em mudanças de rumos brutais ao termos gente que pareciam identificados com este sonho, decididos em abrir o caminho com seu exemplo de dedicação e seriedade na condução da nova política pós-ditadura 1964/ 86.
- Ao reler estas linhas percebi quanto pouco fizeram nossos políticos e partidos de plantão. Me desculpem, portanto, tomei a liberdade de editá-lo aqui pois já era, no meu inconsciente, uma luta pela liberdade e pelo direito de viver bem sem ser necessariamente rico. Nem fazer cambalachos para chegar lá. Já era um grito pelo reconhecimento e direito da plena cidadania, decente, livre, respeitada ao longo da vida, do nascimento até a morte.
- Espero que o canto aos quatro sentidos, especialmente o último, o da liberdade de expressão e de pensar diferente. Espero que apreciem.
- Só corrigi algumas incorreções mantendo o texto original intacto. Eis os anos 8o/82!
Temas da
liberdade.
Exercício sobre
Ouvir, Falar, Ver e Sentir.
Os quatro sentidos
Surdos, mudos, cegos. É o que a política de nossos
governantes no Brasil exige dos cidadãos deste país.
Cegos perante as desigualdades, as injustiças, a
miséria galopante que invade o Brasil do Norte ao Sul, do Este ao Oeste,
deixando-o arrasado com os seus problemas sociais, rurais e urbanos.
Cegos, sim, diante dos desvios e desperdícios do
tesouro publico tão penoso para economizar com o suor e a escassez de grana das
classes pobres e médias.
Mudos devem ficar os cidadãos, mesmo aqueles que
pregam a igualdade em nome de Deus, sem deixar de apoiar uma política criminosa
na suas consequências sobre a população brasileira.
Mudos devem ficar os professores, médicos, enfermeiras
e todos que possam opinar ou criticar a atuação de nossos políticos que
acreditam serem os únicos a enxergar a verdade nesta terra de Deus.
Mudos devem ficar as igrejas, as sinagogas, os
templos, as mesquitas, que mesmo enxergando as diferenças sociais gritantes,
absurdas, e suas calamidades consequentes, devem calar em nome do
não envolvimento nos assuntos internos governamentais.
Mudos devem ficar também os advogados, os juízes e os
jornalistas que reclamam pela inação do governo perante a violência crescente, desenfreada,
portadora das piores calamidades que entristecem as nossas vidas e acabam
atingindo as novas gerações privadas de boa qualidade de vida que todos nossos
filhos e netos merecem.
Cegos, mudos, surdos!
Surdos devem ficar os deputados quando os seus
eleitores os incumbiram de lutar para assegurar um estômago mais satisfeito,
sem fome nem fator de fragilidade humana, um cérebro dos filhos mais cultos e
educados e a decência de uma moradia que não é a fartura dos palácios como não
é a do aperto e do desumanidade das favelas e cortiços.
Surda deve ficar a nação inteira!
E isto que querem de nos? Surdos, cegos e mudos? Será
o nosso triste destino de aceitar sem revolta este percurso para os nossos
filhos e nossos entes queridos ?
É impossível existir, sem lhe dizer "basta",
um governo que possa aceitar e oferecer tanta calamidade para os seus conterrâneos
sem que a Historia, um dia, o coloque no
banco dos réus.
Porém, se somos cegos, mudos e surdos por imposição,
pela força, felizmente sobra ainda o poder da palavra escrita, valorizando este
quarto sentido que nos propicia a liberdade de escrever!
Ou seremos mutilados também ?!!
Toufic Attar
Retirado do baú, corrigido e editado em 27/03/2014
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