segunda-feira, 30 de junho de 2025
Crônica do dia 30/06/25. Segunda. Nº 592
Um Conto (quase) Esquecido
O que devo contar? Talvez nada. Ou talvez algo para ninguém. Ou para leitores anônimos como eu — um escritor igualmente anônimo. Sou tímido ao escrever. Confesso: também sou um pouco relaxado. Mas, com as novas tecnologias, só não escreve quem realmente não quer.
Na história da literatura, houve quem preferisse o lápis e a borracha para rabiscar romances. Outros, a velha e infalível caneta Bic. E havia ainda os que, mesmo diante do avanço tecnológico, não largavam suas máquinas de escrever — essas relíquias que tanto admirei e nunca pude ter. Quando finalmente pude comprar uma, acabei escolhendo um computador. Prático, moderno, e silencioso como meu estilo.
Tenho histórias de quando minha vida era em lugares quentes — e as histórias seguiam o clima. Mesmo com um calor infernal, algumas delas me davam frio na espinha. Porque, se a história é de amor, inevitavelmente vem junto aquele momento que arrepia — não de prazer, mas de dor.
Também trago lembranças de terras frias, como São Paulo, e de amores quentes — daqueles que deixam nós, homens, com os testículos inchados e doloridos. Poucos sabem, mas o esfrega-esfrega constante faz isso acontecer. Espero que a nova lei que regula as redes sociais não censure esta palavra. Mas, se o fizerem, eu recorro ao eufemismo: tomates, bolas... ou colhões mesmo.
Até aqui, ainda não sei exatamente que história vou contar aos meus seletivos leitores. Mas há uma que posso revelar — ou ao menos um pedacinho.
Naquela época, eu ainda trabalhava no Supermercado Shinohara. Foi ali que conheci uma paraguaia. Namorada? Talvez. Um caso, quem sabe. Não contarei o que fizemos, mas posso admitir que a deixei decepcionada. Disse-me ela que os paraguaios são mais “calientes” que os brasileiros. Vai ver, meu desempenho não foi dos melhores... talvez pela escolha infeliz do lugar.
O encontro se deu atrás da Igreja São Benedito, em Vila Sônia. Ali fica a Rua Théo Dutra. Naquele tempo, a região era praticamente uma selva urbana, cercada por mato e mistérios. Um amigo até tentou proteger aquele fragmento de natureza contra a especulação imobiliária. Tentou... mas perdeu. Hoje, quem passa por lá não imagina como aquilo já foi.
E foi ali — na presença de uma natureza ainda viva, entre galhos, folhas e silêncios — que tivemos nosso primeiro e último encontro. Um conto que começou com calor e terminou na sombra.
Francisco Gonçalves de Oliveira
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