Dos índios e das coisas do Brasil
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** O sistema sobre os índios, que segui na minha Representação à Assembleia, deve ser um pouco alterado: em vez do sistema de missões, talvez o sitema de aliança e comércio será o melhor, e para conter os aliados adotar o sistema das colônias romanas, e para a catequização o dos padres morávios - pôr mestres de escola em todas as aldeias dos índios nossos amigos - pôr estes e os missionários debaixo da proteção imediata do Império, fazendo conhecer aos índios que qualquer crime ou opressão que fizerem será vingada terrivelmente - todos os caciques serão confirmados pelo imperador, e receberão um uniforme adaptado ao clima e um bastão de honra. Cada aldeia terá um conselho composto dos velhos mais respeitáveis, em que entrará o pároco, ou o mestre-escola da aldeia - no centro das aldeias dos indígenas se formará uma colônia à romana portuguesa para vigiar sobre a justiça e boa harmonia das aldeias livres. (...)
** Os índios bravos têm horror a tudo o que cheira a escravidão. Os índios desapareceram da costa pelas guerras de extermínio, cativeiro e bexigas, e talvez o gálico. Juntemos a isso a fome terrível de 1564, que os obrigou a vender os filhos, as mulheres e a si próprios aos colonos. (...)
** Dar aos índios as terras de que precisarem para formar sítios, dentre as da Coroa, ou das vastas sesmarias não aproveitadas, ou não demarcadas e confirmadas.
** Vacinar os índios.
** Para fortalecer a constituição física dos índios introduzir o uso das carnes, e diminuir a dieta vegetal, e sobretudo livrá-los da cachaça, que os enfraquece e mata (...).
** Em São Paulo morrem infinitos brancos hidrópicos pelo demasiado uso da cachaça. (...)
** A maior infelicidade que suportou a massa geral dos homens foi a conquista do Novo Mundo. Aventureiros sem moralidade e sem freios foram irritados pela cobiça, e se tornaram tigres carniceiros. (...)
** Os índios não devem ser obrigados a trabalhar forçados; e os mansos, depois de ensinados, devem entrar na sociedade geral dos cidadãos.
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** A dissolução da Assembleia foi mais que um crime, foi um erro palmar. (...)
** Por que razão fui preso e deportado? Eis o motivo, segundo La Fontaine: "Et la raison/ C'est que je m'apelle Lion:/ A cela l'on n'a rien à dire." (E a razão é que me chamo Leão: quanto a isso, nada a dizer). (...)
** Pérfido Pedro, quando me fazia amizades com a metade do rosto, com a outra se azedava da minha popularidade e no seu corrompido coração tramava calúnias, que espalhava contra mim (...).
** O Brasil agora é feito para a democracia, ou para o despotismo? - errei em querer dar-lhe uma monarquia constitucional. (...)
** Os rios majestosos correm em silêncio. (...)
** A liberdade de imprimir é para as ciências como o oxigênio para a vida animal. (...)
** Fiz mal de aceitar o ministério; fiz ainda pior em fiar-me na palavra de um príncipe falso e egoísta - não nasci para ser dissimulado com arte.
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José Bonifácio de Andrade e Silva (trechos do livro 'Projetos para o Brasil')
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