Organização Cultural de Defesa da Cidadania - Entidade Apartidária

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Falta de água, falta de planejamento e PDE


Interlagos - S. Paulo

Falta de água, falta de planejamento e PDE de São Paulo

Por Toufic Attar

    A escassez de água e energia que se acentuou nos últimos anos torna legitima uma série de perguntas: o novo Plano incluiu estudos sobre o aumento da capacidade de fornecimento de um liquido vital a todos, que satisfaz tanto a necessidade de água como a de seu uso para fins energéticos? Quais suas providencias para solucionar problemas já existentes antes de liberar novos canteiros de obras, ampliando as necessidades estruturais? Por quanto tempo é possível aplicar a política recomendada e seguida por ele sem causar escassez e transtornos? Existe algum organismo independente que pode determinar qual é a verdadeira situação do momento, no nível federal, estadual e dos municípios? Muitas perguntas para uma mesma causa: a incapacidade de planejar adensamentos populacionais acima de padrões razoáveis.

    Escolher a política das multas por excesso de consumo não permite esconder os verdadeiros motivos que levaram ao colapso atual na captação e fornecimento de água e energia, com as constantes faltas de energia, punindo os consumidores-cidadãos por falta de planejamento em tempo adequado, fazendo prevalecer políticas públicas preventivas.
    Reservatórios vitais estão secando de maneira dramática. A enorme necessidade de água e energia do Estado de São Paulo lembra a política da avestruz quando esta esconde a cabeça no buraco para não enxergar o perigo. Um dos papéis da imprensa, mesmo a pequena, é chamar a sociedade civil às suas responsabilidades, também rompendo o silêncio e formulando estas indagações, deixando clara uma perplexidade legítima. Deveria ser possível processar quem assumiu tamanhas responsabilidades sem prestar contas legitimas com dados certos e não pré-fabricados conforme a necessidade do momento.
    A sociedade civil pode não ter responsabilidades diretas nas altas alterações do adensamento demográfico ocorrido entre 1970 e 2014, quando o Brasil passou dos 90 milhões em ação aos atuais 203 milhões, e o Estado de SP passou para 42 milhões, enquanto sua capital, dos 6 milhões aos 12 milhões ou mais.
    O que foi feito em termos de garantir uma infraestrutura básica essencial capaz de atender tal demanda? Por que obras emergenciais não foram liberadas a tempo, com total transparência, abrindo um debate democrático no seio da nação em busca de soluções aptas a atender o Brasil moderno? A sociedade civil, sem cobrar devidamente do poder representativo, calou-se e é este o preço amargo cobrado hoje!

    Faltaram planejamentos de longo prazo, 20-30 anos, em todos os setores. O PDE 2002 foi sepultado nas gavetas de representantes do povo eleitos sem cumprir seu papel fundamental que era o de pensar e planejar o futuro, oferecendo propostas compatíveis com a futura demanda. Hoje este futuro está no passado, sepultado, gerando um novo PDE 2012 cheio de lacunas, a nosso ver, ao não propor visibilidade das propostas incluídas, sem nenhuma maquete ilustrando de fato como será a São Paulo que pretende atingir!
    Faltou transparência nos contratos e obras feitas desde então. Permitiram intervenções no seu subsolo sem nunca conseguir resultados condizentes aos investimentos feitos. Ficou gritante e dispendiosa a falta de coordenação entre as partes que respondem por água, luz, gás e metrô. E aconteceu aquilo que tudo mundo vê: gastos fabulosos com resultados pífios! Que importa justificativas improvisadas agora se o fato está diante de nós: blecaute geral! É algo novo? Não. 
    Apresentar PDEs municipais sem apontar as fontes que irão abastecer todas as implantações liberadas é negligenciar o fato de que a indústria da construção civil costuma abater algumas casas (de pouco consumo portanto) de água e energia para erguer em seu lugar complexos habitacionais ou comerciais com um numero assustador de unidades, permitindo outra pergunta: de onde trazem a água e a energia que não eram consumidas ainda nas torneiras das velhas casas que havia até então? Dentro das previsões feitas? Uma das prerrogativas do PDE é incluir questões estratégicas como abastecimento de água, energia e telecomunicações nos seus estudos mais elementares dos elementos de consumo básico da população. Todo mundo precisa. Em nosso entender, as Audiências Publicas deveriam ter sido o melhor momento de mostrar as políticas públicas que interferem diretamente na vida de cada um de nós. Sua aprovação ainda nem festejou um aniversário e já estamos em estado de penúria. Haviam previsto tamanho drama?
    Como é possível estabelecer um PDE municipal coerente que libera a construção vertical em massa sem apontar primeiro soluções dos problemas atuais antes de provocar novos adensamentos em áreas ainda sem infraestrutura adequada a tal fenômeno raro no mundo moderno?
    Mais incrível que pareça, usaram com total liberdade e sem critérios de preservação a mãe natureza como se fosse propriedade particular, pouco importando se o dono é privado ou poder público. Usaram recursos do solo brasileiro, bem da nação como um todo, transformando água, ar e fogo (luz) em bens de consumo como se fossem sabonete, pasta de dente ou carros. Sem controle. Sem analise prévia das consequências. A sociedade se cala, aceitando desculpas esfarrapadas sujeitando-se a pagar pelo que bebe e respira sem saber o que paga nem o que bebe exatamente. Onde no atual PDE há previsões de incorporar água, luz, ar como bens garantidos a todos?
    Na minha consciência de cidadão optei em quebrar o silencio sobre o tema, tornar publicas estas considerações, promovendo um amplo debate sobre como encarar o futuro sem repetir graves vícios passados e ainda presentes.

    Toufic Attar - Presidente da OCDC, Organização Cultural de Defesa da Cidadania

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