Detratores
*
Quem diz que eu roubo alguma coisa
Nunca passou de vil bandido.
Quem diz que eu bebo destilado
Bebe os esgotos do nazismo.
E nos nazistas tropeçamos
Sempre que andamos sem aviso,
Pois são dezoito em cada cem
Dos que atravessam nossa trilha.
*
Quem diz que eu minto anda abraçado
À sombra dos mais tolos mitos,
Anda fugindo da verdade
Como o boçal foge dos livros.
E o mentiroso é uma serpente
Que abrindo a boca sempre esguicha
O fel que torna amarga a noite
E apaga a luz do próprio dia.
*
Quem diz que nutro alguma inveja
Vive na inveja contorcido,
A triturar os próprios ossos,
No vale azedo da agonia.
Pois o invejoso enxerga o outro
Como o maior que sempre o humilha,
E então inverte o que antevê:
Escuridão, se algo cintila.
Cacildo Marques
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Um poema só se torna um clássico quando não tem endereço conhecido. O poéma do Cacildo já nasce clássico. Pergunta ele: Quem diz que eu roubo; quem diz que eu bebo e quem diz que eu minto...
ResponderExcluirCacildo só discordo quanto ao que eu minto, pois o poeta é um fingidor/ Que finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que ele deveras sente. Fernando Pessoa disse isso e eu concordo.
Bem lembrado, Chico. Mas podemos continuar fingindo (acho que ele quis dizer que um poeta é como um ator, mutatis mutandi). O fingidor não é um mentiroso. Além do mais, na quadra, ele confessa que finge para dentro. E aí descobre que de fato sente a dor que pensa estar a fingir. É aquela história: você mergulha na ideia achando que está representando e descobre que está se expondo.
ResponderExcluirCacildo