- Em 1992, na gestão da Prefeita de S. Paulo Luíza Erundina, um seminário sobre restauração de imóveis, promovido por especialistas franceses interessados no enorme campo de obras que descobriram aqui, foi lançado no Pátio do Colégio, tendo, no dia de seu lançamento, a Prefeita e convidados, brasileiros e franceses, com tradução simultânea. A Prefeita, logo de início, deu um dado que repercutiu imediatamente entre alguns especialistas de urbanismo franceses: que a cidade de SP, bom ano, mau ano, explicando as variações, cresce entre 300.000 e 400.000 habitantes! No dia seguinte, antes de iniciar as oficinas, a platéia reunida não teve mais a tradução simultânea, mas sim um intérprete fazendo o papel de tradutor. Passa-se sobre a qualidade dessas traduções. Viu-se o seguinte, entre outras: Um especialista francês, afamado lá, por sua competência, teve a humildade de tomar a palavra dizendo o seguinte praticamente: "Me chamaram para dar uma palestra sobre o assunto. Mas eu mesmo nunca lidei com números como esses que a Prefeita forneceu. Eu peço a vocês o favor de me ensinarem como fazem para lidar com eles."
- Outra constante, a apatia da sala diante dos palestrantes. O testemunho que trago agora me levou a observar que a corrente não tinha passado entre mesa e platéia e um mal-estar começava a reinar tipo "o que estamos fazendo aqui". Os franceses falavam por metáforas tipo "curto prazo – longo prazo". Quando solicitados a especificar o que isto significava revelaram o seguinte: curto prazo no jargão francês, disse um, era o espaço de oito anos. Diante da reação da sala espantada, outro francês corrigiu: "não, na minha região é cinco anos." Em suma, curto prazo para um plano diretor é de 5-8 anos!
- Ao soltar as especificações de longo prazo, 30 anos, a sala ficou mais espantada ainda.Existiam planos assim, prevendo com 30 anos de antecedência as alterações ou crescimento de uma área? Sim! Mas aqui mantiveram, apesar dessas revelações, políticas de improviso!
- Vieram mais lições dos franceses que olhavam a cidade do alto do Edifico Martinelli e viam, aos seus olhos, os tesouros escondidos atrás de prédios bem deteriorados ou em estado de abandono. Revelaram que existiam fórmulas simples de avaliar quanto custaria a reforma de um prédio, bastando subir e descer pela escada e tomar notas. Prometeram ensinar essa metodologia aos seus agora colegas brasileiros. Nunca mais se ouviu falar nem do método nem do que foi feito com ele. Ou se era apenas besteirol francês, tipo brincadeira de quem não tem o que dizer.
- Porque falo tudo isto agora, no Blog da OCDC? Porque ao ver como as coisas estão andando no Butantã e região, a gulodice imobiliária em erguer edifícios e edifícios ali sem saber exatamente a categoria social que será privilegiada, lembrei que, aparentemente, não há nenhum Plano Diretor, nem de curto prazo nem de longo prazo. Previram quantas escolas e creches a mais ia ser necessário? Previram as condições de atendimento, adaptadas aos novos números de crescimento na região, de hospitais e postos de saúde? E o transporte urbano que mal atende hoje em dia os seus usuários submetidos a aviltante situação e aceitar ser pior que sardinha (porque essa tem de ser morta para ser posta em lata)? Como será amanha? Será que as poucas estações de metrô, até Vila Sônia, vão dar conta da demanda? Como será o escoamento das vias secundárias até acessar linhas de ônibus e metrô? E não estamos falando ainda do efeito regional da Copa caso o Morumbi venha a ser confirmado, como tudo leva a crer. A melhoria não pode atender visitante ocasional quando mal atende o usuário diário. Pensar nos turistas, nos seus deslocamentos, é pensar no conforto deles durante um mês. Enquanto que pensar no usuário local é pensar na vida dele e de milhões de pessoas que dependem de um bom Plano Diretor onde todos os aspectos humanos possam ser integrados.
- Pedimos às entidades do Butantã e outras regiões, que têm situações similares, que pensem conjuntamente em planos de interesse geral onde possa prevalecer o ser humano chamado a usufruir tudo o que foi proposto.
- O diálogo está aberto.
Teo Attar – pela Diretoria da OCDC
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