domingo, 12 de setembro de 2010
Educação
Werbster e turma
Mouros. Acho que minha posição não ficou muito clara. Citei Demétrio e Nassif naquela mensagem porque são meus amigos, mas poderia ter citado o Prof. Hélio Santos, militante negro, que não conheço. O Prof. Hélio Santos, militante das ações afirmativas, foi obrigado a calar-se desde que os copistas decidiram importar a política de cotas raciais.
No Brasil, cota racial não é ação afirmativa, é ação deformativa. O Netinho (36%), ex-aluno do Suzuki, é primeiro lugar na pesquisa para o Senado, ficando a Marta (35%) em segundo. Pense em como ele seria 'bem visto' se conseguisse vaga no Senado por cota racial.
As diferenças são históricas. Os EUA foram colonizados por celtas e nórdicos, daí quem se miscigenasse com escravo negro amargava cinco anos de cadeia, pela lei da colônia. O Brasil foi colonizado por mouros. Os portugueses foram dominados pelos mouros do ano 711 ao ano 1249, cinco séculos. Quando chegaram aqui, eram todos miscigenados, com árabes e com judeus sefarditas. Por isso as índias e as negras não eram gente de outro planeta para eles. A miscigenação foi intensa, sob a relação colonizador-colonizado, que era, obviamente, uma relação de força.
Somos no Brasil 94% de população afrodescendente. Uma política de cotas aqui se reduz à discussão aritmética de quanto por cento de negritude leva à garantia do 'benefício', já que a população dominante não é nórdica e não pode ser separada, a menos que se use de um critério hitleriano, quer dizer, um critério apedeuta de análise fenotípica. O caso dos dois gêmeos, um negro e outro branco, da UNB, não é birra da direita, é apenas uma mostra do ridículo da situação. Aliás, o ridículo não impede a construção da tragédia, como na Alemanha de 1933, ano em que Einstein perdeu o cargo de professor recém-conquistado na Universidade de Berlim, porque o nazismo exonerou do serviço público nesse ano todos os que foram identificados como judeus. E de que outro jeito senão por delação?
Anos atrás enviei cópias de páginas do livro final de Deming ao Aloizio, hoje candidato a governador, meu amigo de militância na AP, depois Refazendo. Nesse livro, a frase mais marcante é: "Uma cota é uma barreira intransponível contra a política da qualidade". O engenheiro Deming é a figura mais importante em todo o desenvolvimento da filosofia da qualidade. Quando Deming fala em cota, o sentido é geral, qualquer tipo de cota, embora, no contexto, ele tratasse de cota de produção e não de cota de pessoas. O Prof. Hélio Santos é doutor em Administração e sabe essas coisas de cor. Aloizio não falou mais em cotas, pelo que eu saiba. Deming sempre terminava as exposições de temas como esses com a expressão: "Há caminhos melhores."
Pois é. O Aloizio sabe que só se fala em cota hoje porque os neonazistas enrustidos destruíram o ensino público brasileiro. Quando ingressei na USP, 75% das vagas eram preenchidas por alunos formados em escola estadual. Hoje eu estaria perdido, pois em 2009 foram 74%... de escola particular. Mesmo com as novas políticas de bônus, senão seriam mais de 80%. O caminho melhor é resgatar a escola pública. E garantir políticas que não prejudiquem os negros, os 'mais escuros'. Nós afrodescendentes e mourodescendentes não precisamos de vantagens diferenciadas, só precisamos de políticas que não nos fechem as portas. A progressão continuada é uma ótima medida para quebrar as pernas dos racistas, e talvez por isso os neonazistas trataram de usar o recurso paralelamente às medidas de destruição do processo de ensino-aprendizagem. Têm progressão continuada, mas não têm ensino!
Abraços.
Cacildo
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Gostei de como você faz a defeza da política púlica para a educação. Você usou de sua especialidade, que é a matemática, para provar por a+b que a política de cotas não é a melhor saída para o ensino público.
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