No último dia 2 de setembro pudemos acompanhar na Camara Municipal de São Paulo uma estranha audiencia pública onde o que devia ser discutido oficialmente acabou não sendo o que a plateia presente necessariamente esperava.
Um técnico da SP-Trans foi chamado para expor algumas linhas básicas sobre o monotrilho que está sendo implantado em diversas regiões da capital. Alarmado pelo fato de sua exposição só apresentar aspectos técnicos do projeto M´Boi Mirim, o público começou a pedir abordagens da linha 17, conhecida como Monotrilho Morumbi ou sob um nome bem dourado: linha Ouro!Infelizmente, o Vereador Juscelino que liderava a mesa, informou que os responsáveis pelo Metro e outros que deveriam cobrir o assunto não tinham comparecido! Diante da perplexidade da plateia e um começo de rebelião (alguns do público se retiraram da sala), o mesmo vereador deixou claro o seguinte: o que estava sendo discutido ali era sim a questão do MONOTRILHO em TODA SÃO PAULO. A Camara mostrou ali a eficiencia de sua estratégia: invocando o tempo limitado diante dos 20 inscritos, da parte do público, para falar, concederam mais uma hora, descontado o tempo que a mesa acaparrou o assunto...a confusão não permitiu entender muitos aspectos da politica de implantação de monotrilhos em SP.
Finda a reunião, com uns bate-papos aqui e ali, ficou claro para este reporter improvisado (e voluntário) que havia no ar uma confusão talvez intencional diante do interesse de deixar sem explicações muitos pontos polémicos. Assim, surgiram informações que há monotrilho como investimento municipal que deveria ser diferenciado daquele levado adiante pela Cia do Metro (decisão estadual). Assim, o projeto de uma linha CPTM paralela ao Rio Pinheiros era tocada pela SP-Trans ( a confirmar, por favor)....indagações feitas ao nosso interlocutor da prefeitura: porque não se completa primeiro a linha amarela destinando para ela os recursos adicionais provenientes da linha 17? Antecipando assim a prolongação do metro com a criação da Estação Vila Sonia até Taboão revelaram a seguinte informação que nós deixou alarmado: não há projeto da Cia de Metro levar adiante o Metro, mas sim o monotrilho! Isto é: não há mais metro além da Estação Butantã!
Não queremos ser alarmistas! Mas é preciso que se entenda o que vai vir por aqui para que os profissionais que entendem de gestão pública e transportes coletivos públicos eficientes possam iluminar quem mais precisa saber: os usuários! Há alguem que acessa este blog que pode explicar o que realmente está acontecendo em SP e no Butantã em particular?
Faço apelo, em público, ao meu amigo Ricardo, que tanto acompanhou a questão da Copa,
para que venha divulgar as informações que ele tem neste blog.
A coletividade agradece com antecedencia o empenho em impedir que decisões que custam muito caro e quase impossivel de resgatar depois, sejam tomadas, ligeiramente, sem amplos e profundos debates, públicos e não escondidos e sem procurar favorecer quem faz da questão do transporte público uma verdadeira mina de ouro, inexistente, nos tempos atuais, nos países do hemisfério Norte. E que ficam ansiosos em fechar qualquer negócio nestes trópicos (e outros). E usam da falta de transparencia de seus projetos (quanto custariam NO FINAL DA OBRA POR EXEMPLO) como maior esperança de altos retornos financeiros! Quem quer debater a crise internacional sob este foco? O nosso blog está a disposição de quem acredita que a controversia e o dialogo são santos instrumentos para iluminar caminhos.....Teo Attar
Téo.
ResponderExcluirÉ lamentável como o cidadão usuário do transporte público em S. Paulo é omisso quando se trata de defender seus interesses. O passageiro viaja de ônibus de olho nas revendedoras de automóveis, e com isso sonha um dia poder comprar um carrinho e fugir da caus que é esse serviço. E o governo, que de bobo não tem nada, vai protelando até a coisa ficar insustentável!
Prezado Teo e demais colegas da OCDC,
ResponderExcluira audiência pública dos monotrilhos realmente foi uma bagunça, a começar pela postura do vereador Juscelino que, utilizando-se de palavreado de baixo calão, por diversas vezes, contribuiu para que o público se mostrasse indignado com o que assistia. Quanto à sua solicitação para os meus comentários, tentarei abordar os pontos principais e ser breve, sem perder o conteúdo.
1) Quem é responsável pelos projetos de monotrilhos em São Paulo?
É importante deixar claro que existem os projetos de monotrilhos do Metrô (empresa do governo do estado) e os da SPTrans (empresa municipal). Na audiência pública, compareceram apenas os técnicos da SPTrans. Foi por isso que a discussão ficou restrita. Como os representantes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos não compareceram e boa parte do público queria informações sobre duas das principais linhas (Expresso Tiradentes e Linha 17-Ouro), tivemos apenas a abordagem do lado da população indignada sem a contrapartida dos representantes do governo.
Observem que teremos duas empresas públicas administrando o mesmo modal de transporte, com duplicidade de atribuições de forma totalmente desnecessária;
2) Linha 4 - Amarela do Metrô
O projeto dessa linha termina na estação de Vila Sônia. Por ser resultado de uma PPP (Parceria Público Privada), entendo que não haverá recursos públicos adicionais para um eventual prolongamento dessa linha até Taboão da Serra;
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ResponderExcluir3) Linha 17 - Ouro do Metrô
Essa é uma questão bastante nebulosa e nada explicada pelo Metrô e pela STM. O projeto original dessa linha previa a integração do Aeroporto de Congonhas ao sistema metroferroviário da cidade, ligando as estações Jabaquara e São Judas da Linha 1 - Azul ao aeroporto e, dalí, seguindo até a futura estação Águas Espraiadas da Linha 5 - Lilás. Posteriormente, o projeto foi estendido até a estação Morumbi-CPTM da Linha 9 - Esmeralda da CPTM, nas imediações do Shopping Morumbi. Com isso, o objetivo original estaria cumprido. Eis que, conforme informado pelo engenheiro do Metrô presente na primeira plenária de transportes públicos promovida pela OCDC, em abril passado, o comitê paulista para a copa de 2014, solicitou que a linha 17 fosse prolongada até a linha 4-Amarela na altura do Shopping Butantã, visando garantir o transporte público na porta do estádio e a justificar a construção de um estacionamento em praça pública para atender a necessidade do clube de futebol que não dispõe desse tipo de facilidade. Esse trecho (Sh.Morumbi-Sh.Butantã) foi denominado trecho III e passa por trás do Pq. Burle Marx, cruza a comunidade de Paraisópolis, tangencia o estádio, onde se integra a um estacionamento a ser construído em praça pública com recursos do Metrô, e segue pelo eixo da Av. Jorge João Saad até a Av. Francisco Morato.
A linha 17 tem um custo orçado de 3.2 bilhões de Reais, sendo que ao trecho III corresponde algo em torno de 1.5 bilhão de Reais;
4) Projeto do clube de futebol
O trecho III pedido pelo comitê paulista para 2014 substitui o projeto do arquiteto Ruy Ohtake encomendado pelo clube de futebol. Esse projeto previa apenas a interligação da estação São Paulo-Morumbi da Linha 4-Amarela ao estádio, através de uma via elevada a ser construída no eixo da Av. Jorge João Saad e que terminaria no mesmo estacionamento, projetado pelo mesmo arquiteto, a ser construído sobre a praça Roberto Gomes Pedrosa. Portanto, um projeto do clube de futebol e não um projeto para atender as necessidades de transporte da população da região;
5) Estudos de Demanda
Os estudos de demanda da linha 17 aos quais tivemos acesso, mostram demandas que não ultrapassam a 5.000 passageiros/hora.sentido na hora de pico.
Essa demanda indica que a solução mais adequada seria um corredor de ônibus segregado cujo investimento seria cerca de dez vezes menor do que o valor do monotrilho;
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ResponderExcluir6) Linhas de Monotrilho da SPTrans
Conforme documento denominado "Estudos de Linhas Prioritárias de Monotrilho" da SPTrans, os projetos municipais estão concentrados na região sudoeste da cidade sendo que, de acordo com sequência de prioridades que nos foi apresentada pelo diretor de infraestrutura da SPTrans após a audiência pública do dia 02/09, o trecho 4 integra o monotrilho da SPTrans ao Metrô na futura estação Vila Sônia da Linha 4 do Metrô.
Aqui, encontramos mais uma distorção desses projetos pois, da mesma forma, a Linha 17 integra-se à Linha 4 apenas uma estação antes da de Vila Sônia, ou seja, a Linha 17 termina na estação SP-Morumbi da Linha 4 do Metrô e, assim, teremos duas integrações em duas estações subsequentes de uma mesma linha, no caso, da Linha 4-Amarela.
7) Monotrilho é rechaçado por toda a população
Como pudemos observar na audiência pública, os projetos de monotrilhos foram rechaçados pela população de forma unânime e por razões diversas: (i) questões urbanísticas e arquitetônicas; (ii) alto custo do investimento; (iii) não aderência às demandas existentes que, prioritariamente, exigem soluções de alta capacidade; (iv) questões relacionadas à segurança; e (v) tecnologia ainda não experimentada no país e com altos índices de reprovação no exterior.
Espero, de alguma forma, ter contribuído para esclarecer os colegas quanto ao que se pretende realizar e quanto aos interesses escusos que existem por trás da realização de tais projetos, sem considerar o olho grande das empreiteiras que já se associam às empresas de material elétrico e de material rodante para participarem das concorrências.
Tenham a certeza de que, se o monotrilho prosperar, cada um desses consórcios ganhará a sua porção devidamente superfaturada.
Grato, Ricardo.