Organização Cultural de Defesa da Cidadania - Entidade Apartidária

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Deslumbramento em terras brasileiras

Enseada de Botafogo - Rio de Janeiro

Deslumbramento em terras brasileiras

Toufic Attar (Theo)

     Andanças por um Brasil de 1965 a 2017. Desde 2014, ano de disputas eleitorais para a presidência da República, as campanhas empreendidas foram violentas e de baixo nível político. Os marqueteiros de plantão decidiram oferecer ao povo brasileiro um amargo presente: o da divisão que viria a se instalar no país, mesmo com a reeleição, por estreita margem, da Presidente Dilma Rousseff. Os resultados foram colocados em dúvida, pois as últimas urnas a virem somar foram aquelas que estavam em regiões de fuso horário diferente das demais. Até ali havia um empate na apuração e ambos os lados estavam cantando vitória com antecedência.
    O resultado trazia a vitória "do povo", como dizem o PT e seguidores, mostrando os vencedores abraçados, ou seja, Dilma e Temer, na maior alegria, juntos. Com PT e PMDB aliviados diante do resultado, o poder continuava nas mãos dos mesmos.
     Todavia, o vice-presidente em breve iria roubar o seu trono e a cena pública. De fato, o Sr. Michel Temer iria ser, primeiro, defensor do Governo Dilma, colocado à frente da articulação política. Retirado dali, rapidamente passou de aliado a traidor. De lá para cá, 2014, 15, 16 e 17, foram anos amargos que mergulharam o Brasil numa de suas piores crises da modernidade. De repente a desesperança de milhões de pessoas foi ganhando uma nova forma de sentir-se brasileiro: a vergonha ressentida por mais de 40% de entrevistados. A gente já vinha de crises graves sucessivas, mas também de festejos acolhidos por milhões de brasileiros que sentiram o orgulho de o Brasil sediar a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio.
     Ambos atraídos para cá por ninguém menos que o ex-Presidente Lula, que acolheu ambas as escolhas como raras oportunidades de tirar o Brasil e suas cidades do atraso! Qual carioca não sonhou com um Rio pacificado e onde todos os serviços públicos funcionassem decentemente? Hélas! Mil hélas! Sim, mesmo com mais de 50 anos de Brasil do colunista, sobrou esta maneira francesa de expressar uma profunda infelicidade diante de alguma noticia negativa. Veio então a fatídica pergunta: Onde falhamos em transformar este país? Quem falhou? Governo? sociedade?
     Lembrei-me forçosamente da alegria e dos deslumbramentos que acompanharam meus primeiros anos no Brasil. Era julho de 1965. O jovem que estava chegando aqui tinha a cabeça cheia de uma pergunta que o perseguia desde os seus 18 anos: o que é viver? A vida lhe trouxe uma resposta parcial. Foi forçoso constatar que a experiência brasileira chamou a atenção sobre algo que não tinha ainda vislumbrado: a sobrevivência ser mais importante que o viver.
     O sobreviver era constantemente confundido com o viver, e o viver é fruto de circunstâncias que vão surgindo em nosso caminho, gerando outra circunstância envolvendo a vida de novas pessoas que cruzaram nosso caminho. E assim a vida vai.
     Mas, diante de tudo que estava se passando no momento no Brasil no ano de 2106, veio a vontade de mergulhar nestas águas que misturam histórias e memórias, memórias na tentativa de tecer fios ligando o Brasil de hoje ao de 1965, data zero de minha história na América do Sul. O Brasil de 2017 não tinha nada a ver com aquele de 1965, quando desembarcamos pela primeira vez vindos do distante Líbano, terra do Cedro.
     Hoje por onde andamos deparamo-nos com situações de extrema pobreza que não impedem a extrema riqueza de viver como bem entende, ignorando o fosso social, ignorando que um dos maiores problemas da atualidade continua sendo o mesmo do fim do século XX: a desigualdade da distribuição das rendas provenientes das riquezas do Brasil, apesar dos alertas feitos pela ONU e por autoridades internacionais em 1994, para que este ponto exatamente fosse encarado seriamente, com o desenvolvimento de políticas de inclusão social e de combate ao fosso existente entre cidadãos de um mesmo país.
     Isso foi na época do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, reeleito diante de um oponente chamado Lula, usando recursos e a máquina do Estado de uma maneira escandalosa, que deveria ter incitado o adversário a se retirar da disputa e chamar a atenção sobre o que chamavam de democracia no Brasil. Era a melhor maneira de convidar a sociedade brasileira a um profundo debate sobre o significado da democracia proposta aos brasileiros.
     Assim, os anos 2016-2017 foram os anos em que a classe política começou o mergulho no inferno:
       1. Lula impedido de ser Chefe da Casa Civil de Dilma.
       2. Impeachment de Dilma.
       3. Posse do Vice-Presidente Michel Temer.
     4. Temer sustentando seu papel de presidente a qualquer custo e deixando 2018 diante de uma incógnita.
     O que será daqui em diante?
     Como os eleitores vão reagir diante das urnas?
     O Brasil perdeu preciosos anos de luta contra seus males sociais, sem poder alcançar o quanto antes um velho sonho que é tirar os brasileiros da miséria e da má qualidade de vida. Mais uma vez na história do Brasil esse Dia magnífico ficou para "amanhã". Para algum dia no futuro.
     Paradoxalmente, sua classe política e os que decidem os rumos da nação sabem fazer a diferença: para eles o futuro é já, o quanto antes. E para o restante do povo isto pode significar jamais!
     Cabe à sociedade brasileira construir o país que quer para seus filhos e netos. Ela vai pagar o preço por tanta politicagem ruim. Os caminhos da mudança poderão vir de suas mãos, leitor: nas urnas em 2018. (São Paulo, dezembro 2017.)