Patrícia Yamamoto*
Compartilhamos aqui um relato da audiência sobre a questão de mobilidade da Rodovia Raposo Tavares para quem não pôde estar presente, feito em conjunto com a Lúcia e o Bruno.
A audiência pública, realizada na terça-feira, dia 19/06, na Câmara dos Vereadores do Município de São Paulo, promovida pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB), contou com a exposição de técnicos de órgãos do poder público:
- Companhia de Engenharia e Tráfego-CET, mencionou ajustes em semáforos e intervenções pontuais visando a fluidez;
- São Paulo transportes - SPTrans, apresentou corredores de ônibus previstos e intervenções de competência da Companhia do Metrô: Corredores de ônibus Vila Sônia a Capão Redondo, Itapevi a estação Butantã, Monotrilho Linha 17 e Monotrilho sobre a Raposo, Terminal Rodoviário Vila Sônia (alteraram projeto para não haver desapropriações);
- Departamento de Estradas e Rodagem-DER (falou principalmente sobre as adequações geométricas que o DER vem fazendo até o km 34 para reduzir o índice de acidentes, mão inglesa no KM 12,5 na rotatória rebaixada ao lado dos bombeiros, melhoria de todos os acessos, pontos de parada de ônibus, etc...);
- e da sociedade civil organizada do Butantã: a Associação dos Moradores Amigos do Parque Previdência-AMAPAR, por meio do Sérgio Reze que realizou uma excelente explanação sobre a questão do automóvel e mercado imobiliário.
Além destes, a presença de representantes de associações de Embu, Cotia e Granja Viana forneceu importantes depoimentos, propostas e queixas.
Alargamento?
Foi unânime o entendimento de que o alargamento das vias não é uma solução, pois atende e induz unicamente o uso do transporte individual por automóvel, e torna-se uma obra obsoleta em curto prazo. A promoção do uso individual de automóveis já demonstrou estar fadada ao fracasso além das incontáveis consequências ao meio ambiente e à saúde humana.
Apontou-se a necessidade de melhor utilizar a infraestrutura viária já existente, privilegiando o transporte coletivo sobre trilhos em superfície, de média a alta capacidade, e oferecendo infraestrutura adequada para que as pessoas possam acessá-lo deixando seus veículos individuais, quando necessários, próximos aos locais de origem. Os estacionamentos em geral estão localizados de forma totalmente desarticulada aos terminais, desestimulando a troca de modal do automóvel para o transporte público.
O Prof. Calazans citou a necessidade de haverem outras rotas, como por exemplo o acesso a Cotia por Osasco, aproveitando o percurso paralelo ao Rio Tietê, pois são alternativas aos veículos vindos de bairros da zona oeste que poderiam acessar as marginais desafogando a Raposo.
Ficou evidenciada a necessidade de atender a mobilidade dos pedestres, de forma qualitativa e segura, nos diversos trechos de travessia para transpor a Raposo, bem como na chegada dos terminais de metrô.
Além do que, a implantação de novos empreendimentos imobiliários é preocupante e não condizente com a capacidade da infraestrutura dos equipamentos públicos e de transporte disponíveis hoje para absorver a demanda já existente. Tal carência tem entregue ao mercado imobiliário, a título de melhorar o acesso dos moradores à infraestrutura, a construção de centros comerciais, shoppings, prédios residenciais, loteamentos e condomínios sem qualquer ordenamento urbano planejado para a melhoria da qualidade de vida da população.
Avenida
Tratando-se de uma via utilizada para deslocamento local, devido à quantidade de núcleos urbanos instalados ao seu redor, foi levantada a possibilidade de torná-la avenida ao invés de rodovia, devendo a revisão do Plano Diretor da Cidade viabilizar sua municipalização.
A maioria dos questionamentos por parte da população não foi esclarecida devido à ausência quase que absoluta de diálogo entre os órgãos, e consequentemente da falta de conhecimento acerca do conjunto das intervenções propostas. A ausência da Companhia do Metrô na audiência, responsável pelos projetos do monotrilho e rodoviária na Vila Sônia, prejudicou o entendimento por parte da população.
O vereador Celso Jatene, presente à audiência, propôs em sua fala final que nos próximos encontros haja representantes do Metrô, da EMTU, das empresas de ônibus e sobretudo da Secretaria Municipal de Habitação-SEHAB, que aprova condomínios residenciais ao longo da Raposo.
Bombardier
Tratando-se do descaso do poder público em discutir com a sociedade civil os planos e projetos que pretende executar, a representante do Movimento Defenda São Paulo, Lucila Lacreta, bem frisou que a população ali presente foi pega de surpresa, estarrecida, ao ter sido informada de que a SIURB elabora, a quatro paredes, o Programa de Mobilidade e Acessibilidade para São Paulo, com 15 grandes empreendimentos já sendo licitados. Apontou também o interesse político da instalação de monotrilho em vários segmentos da cidade: por compromissos com a empresa Bombardier, que está se instalando no Brasil no interior de São Paulo, em detrimento da alternativa realmente adequada que é a única que pode atender a demanda imensamente represada de transporte na cidade que são mais e mais linhas de Metrô. Precisamos de Metrô, precisamos de Metrô, precisamos de... Metrô!
Assim, é imprescindível que o Poder Público Estadual trabalhe articulado aos municípios e sociedade civil, de forma a atender a demanda de mobilidade existente, o que não ocorrerá por meio de projetos pífios e carentes de critérios técnicos, tais como a implantação do Monotrilho e da ampliação das faixas de rodagem da Rodovia, e nem convidando a população a participar dos projetos em audiências públicas, no momento em que já foram finalizados.
Fórum
A proposta de criação de um Fórum, sugerida pelo representante da AMAPAR, Sérgio Reze, e de um e-grupo com o e-mail dos presentes para o amadurecimento do debate, foi encaminhada ao final e espera-se que não seja necessário um grande esforço conjunto das entidades para a boa sugestão não cair no vazio.
O vereador Eliseu Gabriel encerrou a audiência solicitando que as associações procurem se articular e formulem questões objetivas, a fim de que sejam encaminhadas, pelo seu Gabinete, e respondidas nos próximos encontros, de modo a sensibilizar os órgãos envolvidos na solução dos problemas relacionados à Raposo Tavares.
Foi falado da alternativa para solução da desarticulação de ações na Raposo e o fato de não podermos tratá-la como Rodovia, como se não tivessem bairros residenciais colados ao seu redor, e aproveitar o ano de revisão do Plano Diretor da Cidade, 2012, para propor a Municipalização da Raposo: Avenida Raposo Tavares, inclusive municipalizar até Cotia.
Foi apontado ainda o fato inadmissível de não ter ainda sinal de pedestres na saída da Estação Butantâ, com trânsito ininterrupto de veículos, se a Prefeitura é que impõe condicionantes para adequar a circulação em projetos classificados como Pólos Geradores de Tráfego. Parece que para o Metrô isso não foi exigido. Uma pessoa da plenária acrescentou: e baias de desembarque para automóveis! O responsável pela SPTrans em sua fala final disse que vai averiguar essa situação.
Sergio Reze, da AMAPAR, frente a uma solicitação de um pessoa da plenária, disse que um e-grupo vai ser montado com o e-mail dos presentes, para amadurecermos o debate.
Poderia acrescentar-se ainda a necessidade urgente de se construir a passarela no km 11,2 (cruzamento com a Benjamin Mansur), independentemente da eliminação semafórica, que deve demorar a sair, devido às polêmicas que envolvem o projeto, como foi demonstrado. O fato é que para quem vem da região da Corifeu e deseja visitar o parque Previdência, ou vice-versa, a travessia é perigosíssima. O sinal trifásico é problemático, visto que é frequente o desrespeito de motoristas da Benjamin que viram à direita na Raposo com o sinal fechado.
Estacionamento
E, sobre o Metrô Butantã, há a necessidade também urgente de se fazer um estacionamento. Não é possível que se gastem os tubos, literalmente, para escavar e construir estações enormes, e essa escavação não inclua uma grande garagem. Se querem mesmo desestimular o uso do carro, que façam garagens nos lugares certos, onde ele será trocado por outro modal. Nossa cidade é invertida: estacionamentos na área central, caros e totalmente impermeáveis, grande estímulo ao carro; ausência completa de estacionamento nas estações de transporte público, grande desestímulo a esse transporte e novamente estímulo ao carro!
(*) Patrícia Yamamoto é integrante do Movimento Butantã-Pode
Edição de junho-julho de 2012 da Gazeta Cidadã:
Edição de agosto de 2012 da Gazeta Cidadã:
http://gazetacidada.atspace.cc/edi_65.htm
Página da Gazeta:
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